domingo, 17 de junho de 2012

Veneza por Lucia Carneiro

Escrever um blog é um prazer muito grande. "Acabou o caviar?" agrega muitos assuntos e, atualmente, a minha viagem de férias tem dominado os posts. Essa viagem tem contagiado os leitores, muitos estão viajando dentro dessa viagem, como é o caso de Lucia Carneiro, amiga querida que conheci através do Blog Conexão Paris. Lucia tem aproveitado muito as postagens e faz comentários inspiradores e cheios de referências. Um dos últimos comentários dessa leitora foi no post "Veneza, uma paixão".  Eu gostei tanto desse comentário que pedi autorização à Lucia para poder públicá-lo aqui como um post, a fim de compartilhar com todos os leitores do Blog.  Espero que vocês, como eu, apreciem.



Veneza para mim é assim como uma miragem de esplendor mágico.
De dia, à noite, com chuva com sol, na neblina ou sob a neve, que é rara mas acontece. Descobre- se Veneza a pé e ao acaso no labirinto de seus sestieri.
Campi campielli, calli, calli longa calli large, salizada, rii, fondamenti, sotoporthegi, interstizo. Nos sotoporteghi muitas vezes passa-se agachado e aprendi que interstizio é um beco que pode ser pouco mais largo que meio metro.
 



Veneza fascina!
É como transpor a ordem do universo, sonhar acordado.
Belisque-se e deixe- se levar numa viagem de dimensão diferente onde sons, cores, aromas e sabores indicam o caminho.
Pense e observe através dos sentidos.
No vazio do silencio da noite perceba o bater de passos firmes no calçamento incerto das ruas. Ouça o silvo dos apitos de carabinieri que em dupla protegem o descanso da cidade. O som das águas que balançam as gôndolas e batem continuo e ritmado na mureta do casario. Ao longe notas da Serenata Rimpianto na voz de tenor de um gondoleiro tardio " ...come un sogno d'or scolpito è nel core...il ricordo ancor...di quel amoré che non esiste piu..." o lamento desliza até a janela aberta de meu quarto de hotel. Seguem-se os mugidos dos grandes navios que entram ao porto na neblina serrada. Amanhece e eu acordo para Veneza com o cantar dos sinos de Campanille na Piazza. Meu relato não é sonho!
Jorge! A culpa é sua e Veneza faz isto!
Pertinho do hotel atravessava-se para o Dorsoduro usando-se o tragheto o meio mais delicioso de andar de gôndola! Santa Maria del Giglio. Se sua alma for mesmo veneta você vai fazer a travessia em pé como fazem os de casa...e eu já fazia. É parte da aventura!
Desta vez foi o Hotel Barbarigo mas sempre fiquei mesmo por ali nos arredores de Calle Larga XXII de Marzo.
Deixa explicar melhor...são só 4 pontes sobre o Canal Grande e 7 pontos de tragheto que fazem a travessia por um "palanca" que hoje corresponde a uma moeda de 0.50€.
Acho que preciso reviver Veneza urgente!

 Lucia Carneiro

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Burano - a ilha da renda

De Murano para Burano não é muito longe, talvez uns 15 ou 20 minutos, se muito. E como acontece sempre, o trajeto é muito bonito. Vejam bem essas "casinhas" á beira da lagoa. Nada mal, para um final de semana, não é?


Do vaporetto um panorama da pequena e calma ilha de Burano.

Burano é conhecida como a ilha da renda, mas poderia ser chamada de "cidade das casas coloridas". Desde a saída da estação do Vaporetto é possível ver um agradável conjunto de casas geminadas com suas cores reluzentes. Nem preciso falar muito, basta que vocês observem as fotos abaixo.


E a surpresa que eu havia falado no post anterior? Estar sozinho numa viagem, não significa ficar solitário e nesta viagem, em particular, tive o prazer de conhecer muitas pessoas, como o casal que está comigo na foto abaixo.
Conheci Soare e Colette no dia anterior em Veneza, quando pedi ajuda para tirar uma foto. Aliás, tem sempre alguém pedindo para tirar uma foto. Foi um encontro rápido, fiz umas fotos perto da Ponte Paglia e depois, mais uma vez na Ponte dei Souspiri. E aí foi quando pude conversar um pouco e fiquei sabendo que eles eram da Romênia. E quando estava em Murano indo pegar o Vaporetto, quem eu encontro? O simpático casal. Achamos graça da coincidência. eles já tinham visitado Murano e, juntos, seguimos para Burano.

 Não bastasse o colorido das casa, ainda tem esses pequenos caprichos.

 E na rua principal da cidade o comércio de renda em toda parte.
 
Fiquei devendo uma visita ao Museo del Merletto (Museu da Renda). Quem tem o Veneza Museum Pass não precisa pagar.

Não é só a Torre de Pisa que é torta... a Torre da Igreja de San Martino também. Eu tirei a foto até duas vezes, mas aí concluí que a torre estava inclinada.

 Brindando o encontro Romênia e Brasil

A visita a Burano foi muito agradável e recomendo. De qual ilha gostei mais? Das duas. Cada uma com seu estilo. Se Murano é calma, Burano é tranquilíssima.
 Deixamos a ilha e retornamos para Veneza.

E navegando nas águas da laguna de Veneza esse enorme navio.
Foi um passeio formidável, longe das multidões e na companhia de novos amigos. Retornei ao Hotel, descansei um pouco, pois à noite iria assistir "La Traviata", eu não ia perder uma ópera em Veneza, não é mesmo?

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Murano - a ilha do vidro

Sábado é um bom dia pra se afastar do Centro de Veneza e fazer um passeio longe da multidão de turistas que chega para o final de semana. Reservei a parte da manhã para conhecer Murano, onde estão as fábricas de vidro que produzem verdadeiras obras de arte. Estava um dia muito bonito, sol, céu azul e um pouco de frio. Na Estação Ferrovia próxima ao Hotel Guerrini, peguei o Vaporetto 42 direto até Murano.

A viagem durou mais ou menos uns 20 minutos e algumas surpresas, como a linha férrea sobre a lagoa.

 ... e o Cemitério de Veneza, que ocupa uma pequena ilha.

Ao chegar em Murano, devido ao horário, antes das 09hs, o movimento era nenhum. Comércio fechado, apenas alguns poucos bares começando a abrir. Achei ótimo.

Com meu guia na mão, iniciei um passeio que iria durar em torno de três horas. As Fábricas de Vidro e as demonstrações de todo o processo de fabricação não fizeram parte do meu roteiro. Não era minha prioridade, preferi andar e apreciar a pequena ilha.

Passei pelas lojas e fotografei algumas vitrines. Os trabalhos, de fato, são belíssimos e os preços, altíssimos. Mas, não é um trabalho qualquer. 


Nada mais tranquilo do que essa pequena praça,. Além de mim, um gato fazia o seu passeio matinal
E por toda a parte os belos trabalhos de artistas, enfeitando as ruas com seu colorido e formas diversas.
 

Em uma das ruas encontrei este obra "Giardino Italia", um presente das diversas fábricas para os moradores de Murano. Cliquem nas fotos para ampliar e ver os detalhes.

Uma outra obra que me chamou atenção foi esse boneco "dois em um":


Gostei muito da fachada desse prédio.

Obra da artista Simone Cenedese "natale de luce in una cometa di vetro".
Achei muito bom ter encontrado essas peças pela rua, um pequeno museu a céu aberto. Embora não tenha feito a visita às fábricas de vidro, achei mais interessante ter passeado, sem pressa, pelas ruas.

 Uma das poucas pontes de ferro que vi.
Reparem nessas grades, tão bom poder admirá-las dessa maneira, ver as formas. Por que estou falando isso. Por conta da onda de colocarem cadeados nas grades de algumas pontes. Particularmente, não gosto. Ao menos em Murano, por enquanto, essa onda não chegou.

Depois de curtir as ruas de Murano, fui visitar o Museu do Vidro que fica instalado no belo Palazzo Giustinian, antiga residência dos Bispos de Torcello. O Museu foi criado em 1861 e abriga fabulosos exemplos de objetos de vidro datados desde o século 1º a.C. Os objetos mais antigos ficam no primeiro andar, onde não consegui fotografar absolutamente nada. No segundo andar, estão os belíssimos lustres e uma exposição temporária de objetos recentes. Uma das surpresas dessa visita, foi ter conhecido Ediluza, brasileira de Salvador, que mora em Veneza há muitos anos e trabalha no Museu Del Vetro. Batemos um longo papo e fui apresentado à Susana a outra recepcionista do Museu. Foram muito gentis comigo. E daqui eu mando um bacione carinhoso para Ediluza e Susana.
Abaixo um pouco das peças do museu:
 
 Após visitar o Museu, segui em direção à Basílica dei Santi Maria e Donato.

Uma belíssima igreja, erguida em 999. Uma pequena jóia na ilha, com obrasd e Bellini e Veronese.
Havia proibição de fotografar, mas fiz cara de bobo e fiz essa foto. Queria guardar o registro. Um altar imponente e muito simples.
O meu passeio estava chegando ao fim, mas ainda tinha muito tempo para entrar nas lojas e quem sabe tentar comprar alguma coisa.


Murano é uma ilha pequena e muito agradável. Gostei imensamente de ter feito essa visita e até poderia ficar o dia inteiro ali. Há bons restaurantes e os lojistas são muito simpáticos. Pelo menos, os que conheci. Quem for à  Veneza e tiver um tempinho, deve visitar a Ilha.
E foi com essa bela vista que me despedi de Murano. E uma pequena surpresa me aguardava no caminho para a  Estação do Vaporetto.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Palazzo Ducale, que emoção!

Um dos maiores símbolos de Veneza, o Palazzo Ducale ou Palácio dos Doges é uma obra-prima do gótico veneziano. É impactante e deve ser visitado. São séculos de história, de tomadas de decisões e de muitas emoções.

A princípio, não esperava muito deste Palazzo, talvez pelo fato de a recepcionista ter me informado que no máximo em 2 horas eu teria visto tudo com muita calma. Julguei que não teria muito o que ver, ou que as instalações não fossem lá essas coisas. Como não havia lido nada a respeito, entrei virgem no edifício.
Desde o dia anterior eu estava curioso para vê-lo por dentro, achei tão rico em detalhes do lado de fora, tão bem conservado.

 Foto para a posteridade.


O Palazzo fica colado à  Basílica de San Marco e entre as duas construções, na Porta della Carta, chama atenção essas quatro esculturas com personagens numa atitude um pouco suspeita. Estariam  conspirando, contando algum segredo? Quem tem um guia na mão sabe tudo, eis a história: "é uma obra síria, e houve quem dissesse que retratava mouros tramando para roubar o tesouro de San Marco. A verdade é que se trata dos dois imperadores do Império Romano do Ocidente e do Império Romano do Oriente do fim do século III, Diocleciano e Maximiniano (dois augustos), conversando com seus césares , Galério e Constrâncio Cloro."

Logo na entrada avista-se a Escadaria dos Gigantes, antiga entrada de honra, projeto de Antonio Rizzo. Com duas esculturas gigantes de Marte e Netuno que foram esculpidas por Sansovino em 1566, simbolizam o poder de Veneza sobre a terra e os mares. E era aqui que acontecia a cerimônia de coroação dos Doges. E aí você já começa a viajar, imaginando toda a pompa desse evento.

Muitos visitantes não percebem esta figura  que fica numa das paredes no pátio do Palazzo. Basta parar e ler o texto para entender que se trata de um local para a coleta de denúncias. Não tem nenhuma placa explicando, mas mesmo sem saber italiano da para entender.  Seria um Disque-Denúncia da época. E acredito que devia ser comum na região do Vêneto.  E em posts futuros vocês entenderão.

Um dos corredores internos do Palazzo. Fotos, como sempre, proibidas, mas como não tinha ninguém...

A continuação da Escadaria dos Gigantes, conduz à Escadaria  de Ouro. Trabalho de Jacopo Sansovino. O teto dessa Escadaria é todo decorado em estuque branco  e folhas de ouro. No passado era reservado somente aos Magistrados e às pessoas importantes. Mas hoje, qualquer mortal sobe as escadas.

Foto: Wikipedia
No primeiro andar ficam as Salas  do Grande Conselho, do Escrutínio, do Brasão e Grimani. Nesta última o destaque fica por conta do belo quadro de Vittore Carpaccio "Leão de São Marcos", pintado em 1516. A Sala Grimani é uma homenagem à família de mesmo nome que deu 3 Doges à República de Veneza. O Leão parece que vai sair da tela a qualquer momento, mas tem um olhar doce. Ele segura um livro com a inscrição "PAX TIBI MARCE EVANGELISTA MEVS" que significa "Paz a vós Marcos, meu Evangelista". Essa Sala tem vários quadros com o Leão de São Marcos. O Santo é o Patrono da cidade. É que para se manter independente da Santa Sé, após não ter mais como patrono São Teodoro, Veneza adotou São Marcos Evangelista que foi testemunha direto da palavra divina e não ligado à Roma. Achei esse fato interessantíssimo.  E só fiquei sabendo isso porque lia todos os painéis explicativos. Logo vi que duas horas não seriam suficientes, ainda mais para um detalhista como eu.

Prosseguia a minha visita, cada vez mais encantado com tudo que via e lia.  Este afresco - São Cristóvão -  (foto acima) foi pintado em três dias por Tiziano sob encomenda do Doge Andrea Gritti em 1524. Como é que pode tanto talento assim? Arrepiante.

Imaginem  morar no Palazzo e passar todos os dias  com essa vista.

O Palazzo Ducale , além de uma cervo de pinturas fantástico, possui um acervo de armas, armaduras e outros objetos bem exóticos...

 ...como o cinto de castidade em destaque na foto acima.

Uma das raras fotos internas das Salas que consegui fazer. Nese ponto da visita estava totalmente deslumbrado com os trabalhos de Tintoretto e Veronese. mas foi na Sala del Maggior Consiglio que vivi a maior emoção da minha vida numa viagem. Algo realmente estranho e inesperado aconteceu quando entrei naquele ambiente. A Sala do Conselho Maior é enorme, mede 53m x 25m. Um Salão e tanto, ali está o maior quadro do mundo,  executado por Tintoretto e seus discípulos, com grande ajuda do filho do Artista, Domenico. A obra é "Il Paradiso".  Contemplando o quadro, o teto, o salão decorado, meu coração começou a bater acelerado, muito forte mesmo. E quando dei conta de mim, estava chorando, sem entender bem tudo aquilo. Chorava,  apenas, e até me afastei para um  dos cantos a fim de não chamar atenção. Agradeci a Deus por estar ali e poder ver tanta arte numa cidade tão mágica e especial como Veneza. Nunca, em tantas viagens que fiz e lugares que visitei havia passado por algo assim. Foi uma experiência única que me deixa emocionado até agora.
Sala del Maggior Consiglio - Espetacular (foto pesquisa na internet)
Recuperado do momento especial que tive, sequei as lágrimas e prossegui, ainda muito emocionado.
 Vista das Pontes de Veneza a partir da Ponte dei Souspiri.

 Porta de Acesso às celas.

E isso era tudo que os presos viam de Veneza. Dariam aqui seus últimos suspiros??
Do segundo andar do Palazzo, um panorama da Escadaria dos Gigantes e o pátio interno com os dois poços com muro ornamental em bronze.
 
 
Terminei a visita completamente encantado, apaixonado e deslumbrado com tudo. Parecia anestesiado de tanta emoção. Não esperava um final de tarde tao fantástico. E a visita estimada em 2 horas, chegou quase a quatro horas!  E ficaria muito mais. Viajando no tempo.

Saí do Palazzo Ducale e fui caminhando pelas ruas estreitas da cidade até chegar à Ponte Rialto onde o sol jogava ainda um pouco do seu dourado sobre as antigas construções.

Um dia que jamais esquecerei.

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